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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Para ser o melhor é preciso abdicar de suas vontades

Sócrates durante a Copa do Mundo de 1982  (Reprodução: https://br.pinterest.com/pin/313915036502397090/)
A relação de um aprendiz com o seu mestre é de extrema importância para o sucesso. Seja qual for a carreira escolhida para seguir na vida adulta, desde pequenos, somos apresentados a diversas formas de aprendizado e liderança. Porém, cada pessoa tem a sua individualidade e responde melhor a certos tipos de impulsos.


Nos esportes coletivos isso fica bastante evidente, sempre vemos na mídia atletas e ex-atletas contando que existem diversos perfis de jogadores e os técnicos tem que saber como lidar com eles. Mais do que isso, tem que saber como incentivar e fazer com que cada atleta atinja o máximo da sua performance. Para isso, um canal de comunicação aberto, direto e honesto é imprescindível.

Aqui no blog já contamos a história de Alexander Popov e Guennadi Touretski, exemplo de uma relação onde o atleta evoluiu e chegou ao máximo da sua capacidade física e técnica. O técnico (Touretski) deu liberdade ao atleta (Popov), que até então tinha se relacionado apenas com treinadores rígidos, que buscavam a perfeição através da repetição de treinos à exaustão.

A relação do insubordinado Sócrates e do conservador Telê


Sócrates, jogador de futebol e capitão da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982, sempre foi uma figura oposta à de Popov. Polêmico, fumante e bebedor de cerveja, nunca gostou de treinamentos e concentrações e aproveitava a vida cultural e noturna de todas as cidades por onde viveu. Porém, ao se deparar com o técnico Telê Santana na seleção brasileira, conseguiu encontrar o seu melhor futebol.

O biógrafo do jogador, Tom Cardoso, descreve que a preparação de Sócrates para o mundial de 1982 foi exemplar. Antes mesmo de começar a treinar com a seleção, três meses antes de começar a Copa do Mundo, no Corinthians ele já havia parado de fumar e havia diminuído muito a cerveja. Tendo um ganho físico evidente. Sócrates só aceitou abrir mão de tudo o que lhe fazia feliz porque havia encontrado em Telê um mestre tal qual era seu pai. Um homem do interior, conversador, e que assim como ele, admirava o bom futebol.

Sócrates, Telê e Zico, durante preparação para a Copa
 (Reprodução: https://br.pinterest.com/pin/541065342705089041/)
Telê admirava o futebol jogado pelo meio campo, mas não poderia ser injusto com os demais jogadores que desempenhavam um futebol melhor, justamente por estarem melhor preparados fisicamente. Júnior, lateral da seleção em 1982 revela o esforço que Sócrates fez para ser um atleta de Telê:

Existe o Sócrates que jogou no Botafogo, no Corinthians, na Fiorentina, no Flamengo, e o Sócrates que jogou a Copa de 82. Ele se tornou, nos três meses de preparação para o Mundial, um outro jogador, um atleta. Eu posso falar isso porque estreamos juntos na seleção, em 1979. Ele era um menino, mas tinha fôlego de veterano. Eu viva pegando no pé dele por causa do cigarro. Ele dizia: “Porra, Capacete, mas você também fuma.” Mas eu fumava dois cigarros por dia, e ele, dois maços! Fiquei surpreso quando ele decidiu abdicar de tudo para chegar inteiro à Copa. Ele sofreu muito durante os treinamentos. Chegou a vomitar no gramado algumas vezes. Foi de uma dedicação comovente. E valeu: ele chegou voando na Espanha.

Telê mostrou para o seu jogador que era necessário que ele desse exemplo, ele era um líder e o time dependia da sua entrega. Somente dessa maneira conseguiriam ter a melhor equipe. Sócrates compreendeu isso, se entregou aos treinamentos pela primeira vez porque quis, porque poderia conquistar algo grandioso na sua carreira. Muito porque a justiça do treinador lhe dava a liberdade que precisava dentro de campo. Nas suas palavras: “Apesar de ser um cara extremamente conservador, ele (Telê) era o mais democrático dos treinadores. Escalava os melhores e falava: 'Vocês aprenderam a jogar juntos e eu não vou meter o dedo, não'”.


Essa atitude simples fez com que o Doutor Sócrates entendesse que para jogar bem deveria estar melhor preparado, e o treinamento, mesmo que cansativo, também tem as suas virtudes. Apesar de não conquistarem o título, a seleção brasileira de 1982 ficou marcada pelo bom futebol, por um jogo ofensivo e de toque de bola, tal qual gostavam seu técnico e o capitão da equipe.

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