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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Texto de apresentação do Blog


"Quando a mente está livre de todo conflito, há uma energia criativa que surge livre de condicionamentos”


A ideia de criar este blog surgiu quando percebemos que as nossas inseguranças, medos e condicionamentos, mesmo que de maneira sutil, delimitam a forma que vivemos. As defesas psicológicas criadas por nós, consciente ou inconscientemente, se manifestam como padrões de tensão muscular que bloqueiam a livre expressão do indivíduo. As defesas afetam a relação da pessoa consigo mesma e com os outros, traduzindo-se no caráter, e o caráter está igualmente ancorado na mente e no corpo.


Para entendermos os bloqueios mentais, devemos investigar as fontes de conflito interno gerados pela cultura e sociedade. Desde o nascimento, o ser humano é educado e moldado para ser inserido na matriz social e cultural, aprendendo os valores da mesma, as atitudes e comportamentos que devemos ter. Neste processo de adaptação, vamos aos pouco nos tornando presos às amarras sociais.

Os padrões impostos pela sociedade (padrão de beleza, de sucesso, etc.) geram uma luta no interior da pessoa, entre o que ela é e o que acredita que deva ser; essa luta é a fonte de grande parte dos problemas pessoais que temos hoje, e por isso acreditamos na importância da busca da verdadeira expressão individual.

A intenção desse blog é explorar os momentos e meios que temos para transcender os aspectos mundanos e alcançar o estado de liberdade plena, onde conseguimos expressar nossa totalidade. Porém, como definir este estado?

A psicologia esportiva define o estado de graça (a “zona”) como “estado mental perfeito, momento de criação pura em que o talento parece emergir, em que tudo dá certo, em que o corpo se torna inteligente, em que nos sentimos inspirados, poderosos” (François Ducassee, Cabeça de Campeão). Neste momento, o indivíduo alcança a transcendência de si mesmo, e sua ação se torna direta, imediata, não filtrada pelo intelecto. O pensamento crítico e a razão - que impõe uma rígida relação de causa e efeito ao comportamento- são calados, e a pessoa passa a viver inteiramente o momento presente, não pensando nos problemas que ocorreram antes, nem no que terá de fazer depois.

Durante este estado, a percepção se torna ampla e profunda. “A inspiração para um trabalho artístico sempre tem um toque do espírito divino, capacitando o artista a renunciar ao seu ego e a fundir-se à sua obra de arte” (Alexander Lowen, O Medo da vida). Esta é a Terra da Criação, o lugar onde o movimento se torna arte.

O mais alto estado espiritual do artista só é alcançado quando se mesclam, num único continuum, os preparativos e a criação, o artesanato e a arte, o material e o espiritual, o abstrato e o concreto” (Eugen Herrige, A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen).

As qualidades necessárias à criação são sensíveis e caprichosas, e temos acesso quando estamos confortáveis e à vontade e nos entregamos ao misterioso poder do corpo: concentração, confiança, intuição, lucidez, inspiração, inventividade, etc. “Elas vêm apenas se as deixarmos vir e, quanto mais queremos controlá-las, menos elas respondem” (François Ducassee, Cabeça de Campeão). “Ao se concentrar e entregar-se totalmente ao movimento, ficamos absorvidos por ele, nos libertando da tirania das coisas e excluindo qualquer pensamento ou medo das circunstancias externas e irrelevantes. Só quando consegue subjugar seus caprichos, alcançando a disciplina de si próprio – tendo, portanto, vivenciado, em sua totalidade, o que recebera- poderá o indivíduo reconhecer aquilo que contém um valor eterno para seu próprio caminho. Ele terá atingido, então, a maturidade e poderá ir ao encontro da sua própria criação que, nesse momento, surge espontânea no interior do seu ser” (Horst Hammitzsch. O zen na Arte da cerimonia do Chá).

Na mesma linha de ideias, vale citar o jovem dançarino do filme Billy Elliot. Ao ser perguntado sobre o que ele busca na dança, ele responde: “Busco desaparecer”. Seu psicológico não impõe mais resistência alguma, e age instintivamente. Pode-se dizer que você pôs seu psicológico em hibernação, etapa normalmente designada com a expressão “esvaziar a mente”.

Em um mundo carregado de informações e conversas que provocam ruído mental, emocional e físico, é necessário cultivar espaços internos de silêncio para ficar centrado. Um silêncio criativo e contemplativo é altamente produtivo. Temos a capacidade de criar as reflexões que queremos. Precisamos utilizá-las com mais frequência. Para isso, deve-se controlar a mente, dirigi-la e manter a atenção centrada. Se alguém fica preso em seus próprios pensamentos, não terá poder sobre eles. Quando, observando-os, consegue-se separar-se deles, abre-se espaço, assume-se o controle e pode-se canalizá-los na direção que se quiser.


Um comentário:

  1. Cada ser deve ter a maneira própria de conectar-se à esse espaço dentro de si, a esse estado; não existe fórmula preparada, cada um descobre por si próprio.. Ou vai carecendo cada vez mais de alcançar essa liberdade interna..
    Muito bacana a iniciativa do blog, muito inspirador.

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