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Sócrates durante a Copa do Mundo de 1982 (Reprodução: https://br.pinterest.com/pin/313915036502397090/) |
A relação de um aprendiz com o seu
mestre é de extrema importância para o sucesso. Seja qual for a
carreira escolhida para seguir na vida adulta, desde pequenos, somos
apresentados a diversas formas de aprendizado e liderança. Porém,
cada pessoa tem a sua individualidade e responde melhor a certos
tipos de impulsos.
Nos esportes coletivos isso fica
bastante evidente, sempre vemos na mídia atletas e ex-atletas
contando que existem diversos perfis de jogadores e os técnicos tem
que saber como lidar com eles. Mais do que isso, tem que saber como
incentivar e fazer com que cada atleta atinja o máximo da sua
performance. Para isso, um canal de comunicação aberto, direto e
honesto é imprescindível.
Aqui no blog já contamos a história de Alexander Popov e Guennadi Touretski,
exemplo de uma relação
onde o atleta evoluiu e chegou ao máximo da sua capacidade física e
técnica. O técnico (Touretski) deu liberdade ao atleta (Popov), que
até então tinha se relacionado apenas com treinadores rígidos, que
buscavam a perfeição através da repetição de treinos à
exaustão.
A relação do insubordinado Sócrates e do conservador Telê
Sócrates, jogador de futebol e
capitão da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982, sempre foi
uma figura oposta à de Popov. Polêmico, fumante e bebedor de
cerveja, nunca gostou de treinamentos e concentrações e aproveitava
a vida cultural e noturna de todas as cidades por onde viveu. Porém,
ao se deparar com o técnico Telê
Santana na seleção brasileira, conseguiu encontrar o seu melhor
futebol.
O biógrafo do jogador, Tom Cardoso,
descreve que a preparação de Sócrates para o mundial de 1982 foi
exemplar. Antes mesmo de começar a treinar com a seleção, três
meses antes de começar a Copa do Mundo,
no Corinthians
ele já havia parado
de fumar e havia diminuído muito a cerveja. Tendo um ganho físico
evidente. Sócrates só aceitou abrir mão de tudo o que lhe fazia
feliz porque havia encontrado em Telê um mestre tal qual era seu
pai. Um homem do interior, conversador, e que assim como ele,
admirava o bom futebol.
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Sócrates, Telê e Zico, durante preparação para a Copa (Reprodução: https://br.pinterest.com/pin/541065342705089041/) |
Telê admirava o futebol jogado pelo
meio campo, mas não poderia ser injusto com os demais jogadores que
desempenhavam um futebol melhor, justamente por estarem melhor
preparados fisicamente. Júnior, lateral da seleção em 1982 revela
o esforço que Sócrates fez para ser um atleta de Telê:
Existe o Sócrates que jogou no
Botafogo, no Corinthians, na Fiorentina, no Flamengo, e o Sócrates
que jogou a Copa de 82. Ele se tornou, nos três meses de preparação
para o Mundial, um outro jogador, um atleta. Eu posso falar isso
porque estreamos juntos na seleção, em 1979. Ele era um menino, mas
tinha fôlego de veterano. Eu viva pegando no pé dele por causa do
cigarro. Ele dizia: “Porra, Capacete, mas você também fuma.”
Mas eu fumava dois cigarros por dia, e ele, dois maços! Fiquei
surpreso quando ele decidiu abdicar de tudo para chegar inteiro à
Copa. Ele sofreu muito durante os treinamentos. Chegou a vomitar no
gramado algumas vezes. Foi de uma dedicação comovente. E valeu: ele
chegou voando na Espanha.
Telê mostrou para o seu jogador que
era necessário que ele desse exemplo, ele era um líder e o time
dependia da sua entrega. Somente dessa maneira conseguiriam ter a
melhor equipe. Sócrates compreendeu isso, se entregou aos
treinamentos pela primeira vez porque quis, porque poderia conquistar
algo grandioso na sua carreira. Muito porque a justiça do treinador
lhe dava a liberdade que precisava dentro de campo. Nas suas
palavras: “Apesar de ser um cara extremamente conservador, ele
(Telê) era o mais democrático dos treinadores. Escalava os melhores
e falava: 'Vocês aprenderam a jogar juntos e eu não vou meter o
dedo, não'”.
Essa atitude simples fez com que o
Doutor Sócrates entendesse que para jogar bem deveria estar melhor
preparado, e o treinamento, mesmo que cansativo, também tem as suas
virtudes. Apesar de não conquistarem o título, a seleção
brasileira de 1982 ficou marcada pelo bom futebol, por um jogo
ofensivo e de toque de bola, tal qual gostavam seu técnico e o
capitão da equipe.
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